segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Entrevista com Luiz Carlos Alves Chaves (15/01/2010)


Consultor em Dependência Química há mais de 20 anos e presidente da Associação Gaúcha de Consultores em Dependência Química, Luiz Carlos Alves Chaves, também coordena cursos de capacitação na área de consultoria. A entrevista para esta edição do Boletim Eletrônico Abead vai abordar a regulamentação e falta de visibilidade da profissão.


Como o senhor começou o trabalho de consultoria em dependência química?
            Bom, primeiro preciso explicar que não sou doutor e não sou médico. Sou consultor em dependência química, que é, na realidade, uma profissão ainda não regulamentada no Brasil. Eu comecei em meados da década de 1980, por uma experiência pessoal que vivi e mudei completamente o rumo da minha área profissional. A minha formação era na área administrativa e trabalhava na função pública. Me interessei por trabalhar com dependência química e até hoje estou nessa área.
Como o consultor em dependência química não é uma profissão regulamentada, temos um movimento entre as pessoas que já trabalham nessa função para pleitear uma regulamentação. Até o presente momento isso ainda não existe. Então, é um profissional que tem uma capacitação em nível técnico para trabalhar com dependentes químicos. Estamos nessa fase assim, até que um dia a gente consiga a regulamentação. 

Dentro da equipe multidisciplinar, quais funções são desempenhadas pelo consultor?
O consultor é a pessoa que, dentro da equipe multidisciplinar, fica mais próxima do paciente no caso da internação, seja breve ou longa. O consultor passa o dia inteiro com o paciente. Ele recebe o paciente desde o momento da internação, junto com a equipe de enfermagem, faz a admissão do paciente na unidade e passa, desde então, a acompanhar a trajetória dele durante o período de internação.
Ele faz o trabalho de abordagens individuais e o trabalho em grupo com os pacientes. Claro que sempre conversando com os demais membros da equipe. Para explicar melhor, é normal em uma área específica de dependentes químicos que tenha a equipe de enfermagem e a equipe que atende os pacientes diretamente.
Na maioria dos casos das internações, o paciente tem o seu médico de preferência, que já o acompanha há muito tempo. E o consultor tem o contato direto com o médico, tanto durante a internação, como no pós-alta, onde as pessoas também podem fazer um trabalho de prevenção de recaída, que é o que faço hoje em ambulatório.
O trabalho é de um grupo terapêutico, que utiliza técnicas da terapia cognitivo-comportamental. E esses grupos não têm um tempo determinado, um acompanhamento que normalmente o psiquiatra encaminha para o consultor, quando ele entende que o paciente precisa de um acompanhamento pós-alta de prevenção de recaída.
Uma coisa é o consultor dentro de uma unidade de internação trabalhando diretamente com o paciente o dia inteiro. Outra coisa é o consultor em nível ambulatorial trabalhando com pacientes uma vez por semana, tanto individual quanto em grupo. Em ambos os tratamentos, o trabalho é direto como o paciente e, em alguns casos, também com a família, quando, no entendimento do médico e da equipe técnica, há uma necessidade de conversar para transmitir informações que muitas famílias ainda não sabem, numa tentativa de derrubar alguns mecanismos de defesa que elas têm. Não é só o paciente que tem esses mecanismos, as famílias também têm. Às vezes a família tem mais dificuldades que o próprio paciente. Então, o consultor também pode atuar nessa área.
No momento atual, por exemplo, eu trabalho em uma instituição que atende familiares, na qual tem o atendimento ambulatorial com as famílias com dependência química e com o próprio paciente, em ambulatório. Claro que esse trabalho é sempre de parceria muito direta com os psiquiatras e os demais membros da equipe.

Na rede pública de saúde e em lugares mais afastados dos grandes centros já existe essa atuação do consultor? 
Infelizmente, nas instituições publicas e até na iniciativa privada existe o espaço para o consultor trabalhar exatamente na área da prevenção e, por questões políticas e econômicas, ainda não existe a atuação desse profissional. Outros técnicos trabalham nessa área, algumas empresas têm lá seu espaço no setor de Recursos Humanos, no setor de saúde das empresas públicas e privadas tem a equipe multidisciplinar, mas não tem a figura do consultor. Tem outras pessoas fazendo o trabalho que seria do consultor, desde a abordagem para ver se realmente a pessoa que está apresentando algum problema é em consequência ou não do uso de alguma substância e qual o encaminhamento a ser dado. Esse seria o trabalho do consultor em dependência química que, no momento, é executado por outros profissionais. Não discordo disso, mas é um espaço que poderia ser melhor utilizado pelo profissional certo: o consultor em dependência química, que ainda é desconhecido.
Muitos profissionais na área não têm conhecimento do trabalho do consultor e a gente está tentando buscar esse espaço. Em 1997, nós criamos a Associação Gaúcha de Consultoria em Dependência Química, que tem como objetivo principal estudar e buscar o aperfeiçoamento e o conhecimento e também possibilidade de regulamentar como uma profissão técnica, como as demais.

A não participação de consultores dentro das equipes nas empresas públicas, por exemplo, acontece pela falta de regulamentação?
Falta de regulamentação e divulgação desse profissional, que ainda está em uma fase muito primitiva. Os profissionais ficam um pouco acomodados, pois conseguem um emprego em uma instituição hospitalar ou em um ambulatório e fica por isso mesmo. Nós precisaríamos mudar esse pensamento e temos que divulgar mais o trabalho, até para que os órgãos públicos e privados tenham conhecimento de que esses profissionais existem. Eu coordenado o Centro de Estudos da Família e do Indivíduo (CEFI), que tem cursos de capacitação dentro dessa área de consultoria, para capacitar o maior número de pessoas a trabalhar nesta área.

Como anda a profissão do consultor em dependência química em outros países?
            O que eu tenho conhecimento é nos Estados Unidos, que a profissão é regulamentada e já existe em alguns estados a consagração desse profissional. Tem uma formação de grau universitário, que é chamado de conselheiro. Em alguns estados brasileiros, existe a figura deste profissional, que não está sendo muito valorizado ou os próprios profissionais não estão se valorizando, buscando o seu espaço. Essa é, talvez, a maior dificuldade. Essa é a ideia que eu tenho em buscar algumas condições de divulgar e apresentar o trabalho do consultor. Ele já foi apresentado, há alguns anos, em um congresso em Florianópolis, de uma maneira mais ampla. Mas isso só não é possível. Temos que mostrar nosso trabalho e melhorar a capacitação dos profissionais, que é o que nós estamos fazendo no CEFI, com os cursos que promovemos para, justamente, melhorar o conhecimento destas pessoas.

2 comentários:

  1. Precisamos mesmo do apoio e da unidade de todos os consultores a nível Brasil para que nosso reconhecimento e legalização sejam efetivos. Chamemos e convidemos todos os que queiram juntos caminhar. Aviso por aqui que os que quiserem se inscrever na AGCDQ enviem e-mail com seus dados para agcdqpoa@gmail.com, estaremos aguardando seu contato.

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